terça-feira, 16 de março de 2010

Minicurso O Negro na Mídia Brasileira



I Ciclo de Encontros da Revista África e Africanidades

Minicurso: O Negro na Mídia

Modalidade: Presencial
Ministrante: Fabiana Oliveira André (Jornalista)


05 de Abril de 2010 das 08:00 às 10:30

Vagas: 40

Investimento:

R$ 21,00 (Público em Geral)

R$ 16,00 (Professores da Educação Básica) *

R$ 12,00 (Alunos de Licenciatura e Graduandos Comunicação Social)**

Inscrições somente pelo site: http://www.africaeafricanidades.com até às 16 horas do dia 01 de abril 2010 (boletos bancários devidamente pagos nas agências) e até as 23:00 para outras formas de pagamento.

Durante os cursos serão sorteados exemplares da Coleção Cadernos África e Africanidades e serão concedidos certificados de participação.

Local: Largo de São Francisco de Paula, 34 - 5º andar - Centro - RJ
* É obrigatória a apresentação de contracheque ou carteira funcional (atualizado) e documento de identidade com foto.

**É obrigatória a apresentação da carteira de estudante especificando curso de licenciatura ou de graduação na área de Comunicação Social (atualizado) e documento com foto.

Palestra condicionada ao mínimo de 25 inscritos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A teoria negreira do DEM saiu do armário

Elio Gaspari

O senador Demóstenes Torres (DEM) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso esta no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.

quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte: “(Fala-se que) as negras foram estupradas no Brasil. (Fala-se que) a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual”.

O senador precisa definir o que vem a ser “forma muito mais consensual” numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.
Gilberto Freyre escreveu o seguinte: “Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime”.

“O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem.” “Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no Sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão.”



Demóstenes Torres disse mais:

“Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até principio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana.”

Nós, que, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre nove milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles
européias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros de escravos seriam trabalhadores livres.
No inicio do século 20 os escravos não eram o principal “item de exportação da economia africana”. Àquela altura, o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia “economia africana”, pois o continente fora partilhado pelas potências européias. DemóstenesTorres estudou História com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.
O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.

* Publicado na Coluna do Elio Gaspari, no Jornal O Popular, no domingo, 7 de março de 2010, página 12 – Política.

Possivelmente, o senador não leu o */Navio Negreiro/* e */Vozes d’África/, de Castro Alves*, que talvez esteja revolvendo-se em sua tumba. Para não ser conivente com a “sabiduria estórica” do senador, vejamos algumas partes desses conhecidos poemas:

*Navio Negreiro*

“Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.



*II*
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias

De Nelson e de Aboukir.. .O Francês — predestinado —

Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...



*III*

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!


*IV*

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

*V*

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...

Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...


Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,

Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...


*VI*
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...


Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!


*Vozes d'África*

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?

Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
- Infinito: galé! ...
Por abutre - me deste o sol candente,
E a terra de Suez - foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.

Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.

Ou no dorso dos brancos elefantes
Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.

Por tenda tem os cimos do Himalaia...
Ganges amoroso beija a praia
Coberta de corais ...
A brisa de Misora o céu inflama;

E ela dorme nos templos do Deus Brama,
- Pagodes colossais...
A Europa é sempre Europa, a gloriosa! ...
A mulher deslumbrante e caprichosa,
Rainha e cortesã.
Artista - corta o mármor de Carrara;
Poetisa - tange os hinos de Ferrara,
No glorioso afã! ...
Sempre a láurea lhe cabe no litígio...
Ora uma c'roa, ora o barrete frígio
Enflora-lhe a cerviz.
Universo após ela - doudo amante
Segue cativo o passo delirante
Da grande meretriz.


Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada
Em meio das areias esgarrada,
Perdida marcho em vão!
Se choro... bebe o pranto a areia ardente;
talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente!
Não descubras no chão...
E nem tenho uma sombra de floresta...
Para cobrir-me nem um templo resta
No solo abrasador...
Quando subo às Pirâmides do Egito
Embalde aos quatro céus chorando grito: "Abriga-me, Senhor!..."


Como o profeta em cinza a fronte envolve,
Velo a cabeça no areal que volve
O siroco feroz...
Quando eu passo no Saara amortalhada...
Ai! dizem: "Lá vai África embuçada
No seu branco albornoz. . . "
Nem vêem que o deserto é meu sudário,
Que o silêncio campeia solitário
Por sobre o peito meu.

Lá no solo onde o cardo apenas medra
Boceja a Esfinge colossal de pedra
Fitando o morno céu.
De Tebas nas colunas derrocadas
As cegonhas espiam debruçadas
O horizonte sem fim ...
Onde branqueia a caravana errante,
E o camelo monótono, arquejante
Que desce de Efraim


Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
É, pois, teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?...
E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
Teu gládio vingador?!


Foi depois do dilúvio... um viadante,
Negro, sombrio, pálido, arquejante,
Descia do Arará...
E eu disse ao peregrino fulminado:
"Cão! ... serás meu esposo bem-amado...
- Serei tua Eloá. . . "
Desde este dia o vento da desgraça
Por meus cabelos ululando passa
O anátema cruel.
As tribos erram do areal nas vagas,
E o Nômada faminto corta as plagas
No rápido corcel.
Vi a ciência desertar do Egito...
Vi meu povo seguir - Judeu maldito -
Trilho de perdição.
Depois vi minha prole desgraçada
Pelas garras d'Europa - arrebatada –
Amestrado falcão! ...
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária do universo,
Eu - pasto universal...

Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.

Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!..

quarta-feira, 3 de março de 2010

ONU-HABITAT financia projetos liderados por jovens


Da UNFPA - Notícias

Jovens entre 15 e 32 anos e cidadãos do mundo em desenvolvimento terão a oportunidade de receber apoio financeiro para projetos relacionados à emprego, boa governança, abrigo e direito à propriedade. O Fundo da Juventude Urbana da ONU-HABITAT (Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos) fornecerá esse ano US$ 1 milhão para projetos com abordagens inovadoras . Os projetos podem se candidatar a apoios financeiros entre US$ 5 mil e US$ 25 mil, dependendo do tamanho.
De acordo com a ONU-HABITAT, entre os um bilhão de moradores de favelas de todo o mundo, estima-se que mais de 70% tenham menos de 30 anos.  Esses jovens possuem poucos recursos disponíveis para melhorar o seu próprio ambiente de vida. Existem muitas iniciativas lideradas por jovens em favelas e assentamentos ocupados em todo o mundo que demandam apoio nos seus esforços de transformar suas comunidades.

O Fundo da Juventude Urbana ONU-HABITAT fornece apoio financeiro direto à essas iniciativas lideradas pela juventude, com a intenção de ajudar a combater os desafios da pobreza urbana, e, ao mesmo tempo, criar cidades mais sustentáveis e inclusivas. Para o programa de 2010, a data limite para a submissão dos projetos é o dia 15 de abril de 2010. Mais detalhes estão disponíveis em www.unhabitat.org/youthfund.

Mais informações:
Spokesperson & Head, Press & Media Relations Unit or Media Liasion
Tel: (+254 20) 7623153; 7623151; Fax: (254 20 ) 7624060
E-mail: habitat.press@unhabitat.org Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Gestores discutem manutenção de cotas para negros na UnB

Política é questionada pelo partido Democratas, que levou a questão para o Supremo Tribunal Federal

FONTE: Estadão.com.br
- Agência Brasil -

BRASÍLIA - A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), com o apoio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), realizou nesta quinta-feira, 25, uma videoconferência para discutir as cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB). O objetivo foi debater com os gestores a política de cotas na instituição, que é questionada pelo Democratas (DEM) em uma arguição de descumprimento de preceito fundamental apresentada no Supremo Tribunal Federal (STF).

O STF vai promover uma audiência pública nos dias 3, 4 e 5 de março, para subsidiar a decisão do relator da matéria, ministro Ricardo Lewandowski.

PROGRAMA OUTRO OLHAR - Mulheres Negras

Mulheres negras falam sobre racismo e sexismo e suas articulações com a precarização das relações de trabalho.

Elisa Lucinda - Mulata Exportação

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Facebook não tira do ar sites racistas e causa protestos

FONTE: TERRA - Quinta, 28 de janeiro de 2010, 19h46 Atualizada às 19h55

A rede social Facebook vem enfrentando um problema cada vez mais grave: o surgimento de sites de ódio, que incitam sentimentos contra grupos sociais diversos, como os indianos que vivem na Austrália. As reclamações são frequentes, porém, os sites não estão sendo apagados pela empresa.

Grupos como o "I think Indian People Should Wear Deodorant" ("eu acho que indianos deveriam usar desodorante"), "Stop Whining Indians" ("parem de reclamar, indianos"), e "Australia: Indians, You Have a Right to Leave" ("Austrália: indianos, vocês têm o direito de ir embora"), não foram excluídos do portal mesmo após protestos e apelos de grupos de direitos humanos e representantes das minorias discriminadas.

Gautam Gupta, secretário da Federação dos Estudantes Indianos, disse que apesar de achar que os sites devem ser excluídos, sua manutenção permite o rastreamento dos grupos de ódio, que podem trabalhar tanto online quanto offline. Gupta acredita que este não é um problema apenas do Facebook, e sim social.

Pelo menos seis grupos australianos especificamente contra os indianos no país ainda estão ativos no Facebook. Entre os mais populares, estão o "Fuck Off - We´re Full" ("danem-se - estamos cheios", numa tradução "amaciada") e o "Speak English or Piss Off!!!" ("fale inglês ou caia fora", idem), que possui 54 mil membros e ganha aproximadamente 2 mil seguidores por semana.

De acordo com o jornal australiano The Sydney Morning Herald, o site "Speak English or Piss Off!!!" recentemente postou uma nota dizendo que estão ganhando a batalha contra o Facebook para manter a página ativa. Já Darrin Hodges, administrador do grupo "Fuck Off - Were Full", não fez apologia, afirmando apenas que a rede é inconsistente em relação à maneira de lidar com os grupos, contando também que o seu foi desativado cinco vezes além de invadido por trolls.

Alex Gollan, criador do grupo "Australians Against Racism & Discrimination" ("australianos contra o racismo e a discriminação"), conta que não é do interesse do Facebook fechar páginas racistas que publicam anúncios, e afirma que o problema cresceu muito e está fora de controle.

Darlene Ford, professora de estudantes indianos na Adelaide¿s Cambridge College, contou que seguiu todos os procedimentos do Facebook para denunciar os sites, e se diz frustrada com a falta de ação da empresa, que não quis comentar os fatos.

Aqui no Brasil existem poucos grupos que incitam a violência no Facebook - provavelmente pelo baixo número de usuários nacionais, já que no Orkut eles são inúmeros, mas é possível encontrar um que discrimina o grupo "emo". Já a Itália desistiu de combater tais sites, depois de uma onda de grupos elogiando o ataque ao primeiro ministro Silvio Berlusconi.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Curso de Pós-Graduação Gratuito

O Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ) publica o edital de seleção de candidatos à segunda turma do curso de pós-graduação /lato sensu  - RELAÇÕES ETNICORRACIAIS E EDUCAÇÃO: UMA PROPOSTA DE (RE)CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL.

Confira o Edital  no site do CEFET/RJ, na página da Diretoria de Pós-Graduação.
 

Lembramos que o curso é TOTALMENTE GRATUITO!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

IV Curso de Atualização em Estudos da Diáspora Africana



O programa MultiVersidade Criola, em parceria com o PROAFRO do Centro de Ciências Sociais da UERJ, e o Centro de Estudos Africanos e Afro-Americanos (CAAAS), da Universidade do Texas, torna público a abertura de inscrições para selecionar alunos e alunas, para o IV Curso de Atualização em Estudos da Diáspora Africana. Inscrições de 11/01/2010 à 19/02/2010.



É necessária uma nova Abolição?



AÇÃO AFIRMATIVA
É necessária uma nova Abolição?



Por Muniz Sodré em 27/10/2009


Há uma questão atravessada na garganta de grupos empenhados na defesa das políticas afirmativas da cidadania negra. Trata-se de saber por que os jornalões (nome talvez mais palatável do que "grande mídia impressa") brasileiros não dão voz alguma a quem se manifesta favorável a medidas como a instituição das cotas ou ao Estatuto da Igualdade Racial. Como bem se sabe, esses jornais vêm dando largo espaço a jornalistas e intelectuais decididos a demonstrar que as ações afirmativas constituem uma nova forma de racismo, já que raça não existe e, ademais, como a população brasileira é predominantemente miscigenada, todos os nossos concidadãos teriam a sua cota de negritude. Logo, não faria qualquer sentido ficar procurando saber quem é negro ou branco para proteger o primeiro.
Foi essa a questão debatida nos dias 14 e 15 de outubro, durante o seminário "Comunicação e Ação Afirmativa: o papel da mídia no debate sobre igualdade racial", realizado na Associação Brasileira de Imprensa por entidades como Comdedine, Cojira e Seppir. É bem sabido que há vozes discordantes das opiniões oficiais dos jornalões, por parte de jornalistas de peso, alguns dos quais pertencentes aos quadros desses mesmos jornais. É o caso de Elio Gaspari, Miriam Leitão e Ancelmo Gois. Estes dois últimos, aliás, foram palestrantes no seminário.


Uma instituição retrógrada
Na mesa sobre "a responsabilidade social da mídia e o debate sobre raça" – que dividi com a jornalista Márcia Neder, da revista Claudia –, comecei afirmando que há certas visibilidades que nos cegam. O sol, por exemplo, se tornado excessivamente visível (olhado de frente), nos impede de enxergar. Mas há também objetos sociais que, se tornados visíveis demais, podem bloquear a visão de quem antes acreditava ver. Parece-me ser este o dilema da cor, do fenótipo escuro, na atualidade brasileira, onde vislumbro um caso de cegueira cognitiva.
De fato, a questão vem sendo tratada como ser pró ou contra o racialismo. A maioria dos favoráveis a propostas como o Estatuto da Igualdade Racial, cotas para universitários etc., lastreia os seus argumentos com as razões do anti-racismo; os desfavoráveis, embora reconhecendo a existência episódica e anacrônica de incidentes racistas, tentam fazer crer que vivemos no melhor dos mundos em termos de conciliação das diferenças étnicas e que seria, portanto, um retrocesso civilizatório racializar a população. Curioso é que esses mesmos argumentos desfavoráveis, sem que seus autores se dêem conta, são racialistas em última análise, ao apelarem para as noções de miscigenação biológica.
Por outro lado, de modo geral, todos se habituaram a pensar na escravidão ora como uma mácula humanitária, ora como um anacronismo, uma instituição retrógrada na história do progresso. Vale, entretanto, apresentar uma opinião de outro matiz, a de Alberto Torres, autor de O Problema Nacional Brasileiro. Foi um dos grandes explicadores do Brasil entre o final do século 19 e início do 20.


A saudade do escravo
Conservador em termos sociais (refratário à urbanização e à industrialização), propugnador de uma República autoritária, Torres revela-se, entretanto, interessante em termos metodológicos e teóricos. Diz em seu livro que "a escravidão foi uma das poucas coisas com visos de organização que este país jamais possuiu. (...) Social e economicamente, a escravidão deu-nos, por longos anos, todo o esforço e toda a ordem que então possuíamos e fundou toda a produção material que ainda temos".
Torres era, insisto, autoritário e conservador. Gerou epígonos como Oliveira Vianna, esse mesmo que chegou a justificar em sua obra o extermínio do "íncola inútil", isto é, do habitante das regiões empobrecidas do país. Era, entretanto, um conservador diferente: discordava das teses sobre a inferioridade racial do brasileiro, não era racista. Sua frase sobre a escravidão é algo a ser ponderado, principalmente quando cotejada com o dito de Joaquim Nabuco: "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. (...) Ela envolveu-me como uma carícia muda toda a minha infância" (Minha Formação).
É célebre essa passagem sobre a memória afetiva da escravidão – a saudade do escravo. Ela é a superfície psicológica do fato histórico-econômico de que as bases da organização nacional foram dadas pelo escravismo. Por isso, vale perguntar que apreensão os brasileiros fazem desse fato, pouco mais de um século depois da Abolição.


Perpétuos cães de guarda
Alguns pontos devem ser considerados:
1. A palavra "apreensão" não diz respeito a concepções intelectuais, e sim, à incorporação emocional ou afetiva do fenômeno em questão. No interior de uma forma social determinada, nós apreendemos por consciência e por hábito o seu ethos, isto é, a sua atmosfera sensível que nos diz, desde a nossa mais tenra infância, o que aceitar e o que rejeitar.
2. A reinterpretação afetiva da "saudade do escravo", que envolve (a) as relações com empregadas domésticas e babás (sucedâneas das amas-de-leite); (b) o afrodescendente como objeto de ciência (para sociólogos e antropólogos); (c) imagens pasteurizadas da cidadania negra na mídia.
Diferentemente da discriminação do Outro ou do racismo puro e simples, a saudade do escravo é algo que se inscreve na forma social predominante como um padrão subconsciente, sem justificativas racionais ou doutrinárias, mas como o sentimento – decorrente de uma forma social ainda não isenta do escravagismo – de que os lugares do socius já foram ancestralmente distribuídos. Cada macaco em seu galho: eu aqui, o outro ali. A cor clara é, desde o nascimento, uma vantagem patrimonial que não deve ser deslocada. Por que mexer com o que se eterniza como natureza?
Nada, portanto, da velha grosseria racista, da velha sentença de "pão, pano e pau" proferida pelo padre Antonil a propósito dos negros. Não há mais lugar histórico para o "pau" desde a Abolição, ou melhor, desde a Lei Caó. O argumento explicitamente racista não leva ninguém a lugar algum no império das tecnologias do self incrementadas pelo mercado e pela mídia.
Mas é imperativo para o senso comum da direita social que as posições adrede fixadas não se subvertam. O escravismo é mais uma lógica do lugar do que do sentido. É dele que, de fato, têm saudade os que acham um escândalo racial proteger as vítimas históricas da dominação racial. E os jornalões, intelectuais coletivos das classes dirigentes, não fazem mais do que assim se confirmarem ao lhes darem voz exclusiva em seus editoriais e em suas páginas privilegiadas, ao se perpetuarem como cães de guarda da retaguarda escravista. É oportuno prestar atenção à letra da canção de Cartola ("Autonomia") em que ele afirma a necessidade de "uma nova Abolição".

Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=561CID001