quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
VI COPENE – Inscrições abertas!
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
A História de uma conquista: a condenação da Sony Music por difundir conteúdos racistas
TIÇÃO, TIZIL É O POVO DO BRASIL! (CULTNE - A Marcha Negra- 1988)
Ontem postei um conteúdo, no mínimo inquietante sobre a manifestação de estudantes negros da UERJ em repúdio aos recentes atos de violência racial praticados por outros alunos na universidade. O acontecimento me fez parar e refletir sobre como a mentalidade do povo brasileiro avançou (ou não) em relação às questões raciais. Após algumas horas de reflexão e pesquisa, me deparei com um vídeo que tem quase a minha idade e, por incrível que pareça, contém a mesma essência da reivindicação feita pelos estudantes da UERJ ontem: RESPEITO!
Este vídeo que retrata parte de nossa história, mostra como foi importante a luta de irmãs e irmãos de outrora, pois, para que os estudantes de hoje pudessem estar ali, dentro de uma universidade renomada, gritando alto por seus direitos e por respeito, foram necessárias muitas outras manifestações (e o vídeo registra uma delas).
Acaba sendo interessante notar como essas lutas pregressas semearam mudanças na história e na própria maneira lê-la hoje. “Morro derrotado, mas negros serão livres um dia...”, diz Zumbi dos Palmares na frase estampada quase no fim do vídeo. Olhando de nosso presente peço licença e me atrevo a discordar: Zumbi venceu!
Luanda Melo.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
UM BASTA AO RACISMO!
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Seminário de Estética e Negritude no Brasil Contemporâneo
Dia 14/12/09
08h00 – Abertura de Inscrições
Local: Sagão do 9º andar do auditório Oscar Guanabarino
09h00 09h30 – 12h30 - Mesa I: Negritude (s) em trânsito e reapropriação do belo.
Coordenação: Martvs Chagas – SEPPIR
Palestrantes: Julio Tavares - Anropólogo - UFF
Helena Teodoro – Escritora
Jacques d`Adesky – Pesuisador UCAM
13h30 – 16h30 - Mesa II - Temática: Letras na Diáspora Poética e Política
Coordenação: Azoilda Loretto – Pedagoga – Psicóloga
Palestrantes: Joel Rufino dos Santos – Escritor
Elisa Lucinda – Atriz – Poeta
Éle Semog – Escritor
17h00 – Sessão de Abertura do ENCONTRO DE ARTE NEGRA – SEMIN?RIO ESTÉTICA E NEGRITUDE NO BRASIL CONTEMPOR?NEO
Autoridades e convidados.
Local: Auditório Oscar Guanabarino da ABI
Saudações e apresentação do evento pelo presidente do CIDAN
Antonio Pompêo
Convidados:
Edson Santos - Ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Zulu Araújo – Presidente da Fundação Cultural Palmares
Sergio Mamberti – Presidente da Funarte
Maurício Azedo – Presidente da ABI
Milton Goncalves – Ator
Jorge Coutinho – Ator – Presidente do SATEDRJ
Zózimo Bulbul – Cineasta – Centro Afro Carioca de Cinema
Carlos Alberto Medeiros – Coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – Prefeitura do Rio de Janeiro
Zezé Motta – Presidente de Honra do CIDAN
18h00 às 19h00 – Recepção no saguão do 9º andar.
Dia 15/12/2009
Local: Auditório Belisário de Souza, no 7º andar da ABI
09h30 – 12h30 - Mesa I: Negritude (s) em trânsito e reapropriação do belo.
Coordenação:
Martivs Chagas – SEPPIR
Palestrantes: Muniz Sodré – Presidente da Fundação Biblioteca Nacional
Helena Teodoro – Escritora
Jacques d`Adesky – Conselheiro Acadêmico da CLACSO
13h30 – 16h30 - Mesa II - Letras na Diáspora Temática: Poética e Política
Coordenação: Ricardo Vieiralves – Reitor da Uerj
Joel Rufino dos Santos – Escritor
Elisa Lucinda – Atriz – Poeta
Éle Semóg - Escritor
Dia 16/12/2008
Local: Auditório Belisário de Souza, no 7º andar da ABI
09h30-12h30 - Mesa III - Reapropriação e legitimidade das expressões afro-brasileiras
Coordenação: Antonio Molina – Vice-Presidente do CIDAN
Palestrantes: Julio Tavares - Antropólogo UFF
Zulu Araujo – Presidente da FCP
Ronaldo Rêgo - Artista Plástico
13h30 – 16h30 - Mesa IV – Formas, pincéis e traços da mulher e do homem de cor, Imagens, folclorização e consumo: Quem faz e quem vende o “Produto Afro?”
Coordenação: Renata Melo – SEPPIR
Palestrantes: Nelson Inocêncio – Professor da Unb
Pestana - jornalista – Diretor da revista RAÇA
Januário Garcia - Fotógrafo
Dia 17/11/09
Local: Auditório Belisário de Souza, no 7º andar da ABI
09h30 -12h30 - Mesa V - Nós e os outros na m música negra contemporânea.
Coordenação: Sergio Cabral – Jornalista e pesquisador
Palestrantes: Haroldo Costa – Pesquisador
Carlos Negreiros – Músico e Pesquisador
Delcio Teobaldo – Escritor – Jornalista - Musicólogo
Augusto Bapt – Músico
13h30 – 16h30 - Mesa VI –Temática: Agência Negra e Grande Mídia: inserção e ativismo político
Coordenação: Carlos Alberto Medeiros – Coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – Prefeitura do Rio de Janeiro
Palestrantes: Joelzito Araujo – Cineasta
Sandra Almada – Jornalista
Jeferson De – Cineasta
Luiz Antônio Pilar – Diretor de Novelas na Rede Globo
Manifesto Porta na Cara - Flagrante na agência bancária
MANIFESTO PORTA NA CARA, vídeo feito pelo Núcleo de Audiovisual do Circo Voador em novembro deste ano, é um flagrante de que o racismo ainda orienta e estrutura uma série de comportamentos e práticas sociais.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Carta aberta da organização de mulheres negras CRIOLA para aluna da UERJ vítima de racismo
“Uma voz”
Cara Dandara,
Mesmo estando ainda sob o impacto de seu relato, gostaríamos de, em primeiro lugar, registrar nosso apreço e admiração pela iniciativa comprometida e corajosa de tornar públicas as passagens do episódio de racismo e violência de gênero, lamentavelmente, vivenciadas por você há poucos dias. O racismo que se manifestou nas palavras de seu agressor, como você bem diz, é o mesmo que perpassava o ato de violência física e psicológica praticado por este – porque fazia com que ele imaginasse ter o direito de agir de tal forma. O racismo continuou impresso no descaso com que a polícia tratou sua denúncia e, até mesmo, no pedido de “deixa disso” feito pelo colega que acompanhou parte do acontecido.
Como você já sabe – e a conclusão depreende-se de sua atitude - o racismo, bem como as injustiças e dores que certamente o acompanham, só serão superados através de gestos de indignação e resistência como o seu: pegando emprestadas as suas palavras “uma voz” que não silenciou diante de formas tão ostensivas de violência. Por estes motivos, CRIOLA vem através das linhas que se seguem cumprir o objetivo duplo de oferecer apoio e congratulação por seu gesto, que ilustra e materializa o repúdio, o qual compartilhamos, pelo racismo e pelo sexismo, entranhados não só nas ações do criminoso, mas também na postura dos agentes do Estado que exigiram de você, a vítima - é bom que se destaque - dados dos quais não poderia dispor no momento, com a evidente intenção de inviabilizar a oficialização do registro de ocorrência.
Por mais redundante e absurdo que pareça, temos de ressaltar que É DEVER DA POLÍCIA INVESTIGAR DENÚNCIAS não da(o) denunciante. Você pode ainda recorrer ao Centro Integrado de Atendimento à Mulher (CIAM) , que presta serviços de assistência jurídica, psicossocial e de acompanhamento de casos envolvendo mulheres em situação de violência e discriminação; e ao Ministério Público.
Tão ou mais grave do que a atitude de alguns de seus colegas de universidade, é a postura de agentes da lei tentando obstruí-la em nome da perpetuação de uma espécie de ciclo no qual a sociedade, o Estado e suas autoridades vêm, constantemente, reiterar cumplicidades com as múltiplas formas opressão vividas pelas mulheres negras. Isso tem de acabar e entendemos que para tal é necessário que nos movimentemos e estejamos constantemente prontas a defender nossos direitos. Por isso, exigimos da polícia que apure os dois crimes, tanto o de racismo ocorrido em frente ao campus da UERJ, quanto o de seus próprios agentes (cuja conduta foi deplorável diante da gravidade dos fatos). Da universidade cobramos posicionamento, por considerar que o racismo, em todas as suas dimensões, demanda respostas. E que a reticência, neste caso, acabaria sinalizando certo nível de conivência da instituição com práticas discriminatórias - e é importante mencionar que a UERJ, ao contrário, vem dando várias demonstrações de seu apoio à luta antiracista (e esperamos que, desta vez, continue). Queremos que a universidade – na figura de seu reitor - se pronuncie publicamente repudiando o racismo e qualquer tipo de discriminação, além disso, que se comprometa com o desenvolvimento de ações informativas e educativas antiracismo.
CRIOLA, ao longo de sua trajetória política, além de apoiar e instrumentalizar meninas e mulheres negras na luta antiracista e antisexista, sempre as enxergou enquanto verdadeiras agentes de transformação da sociedade e protagonistas dos processos de ruptura com a reprodução de comportamentos, práticas e estruturas permeados pelas discriminações. E é assim que encaramos a sua mensagem. Que embora narre um episódio lamentável, dá conta, ao mesmo tempo, de politizá-lo. É, inegavelmente, um relato que nos inspira a continuar na luta.
Conte conosco,
CRIOLA .
* Carta aberta de Dandara Jacqueline Matulino da Silva aos alunos da UERJ
Rio de Janeiro, 30 de Novembro de 2009.
Carta aberta aos alunos da UERJ
No sábado por volta das 5:30 min. da amanhã, ao sair de uma festa em casa de uma amiga, em Vila Isabel, passei em frente a UERJ com o intuito de pegar o ônibus de volta para casa, localizada no bairro da Penha. Estava acompanhada de mais três amigos, quando paramos para conversarmos com mais três rapazes, que por motivos desconhecidos estavam em frente ao portão principal da UERJ à Rua São Francisco Xavier.
Distancie-me do grupo para ver se o ônibus estava vindo e ao me aproximar um dos amigos, relatou-me que um dos meninos do outro grupo, cujo nome é Felipe e cursa engenharia, me chamou de chipanzé em uma atitude altamente desrespeitosa e racista.
Indiguinada fui tirar satisfação com o Felipe que, a principio negou o fato e partiu para cima de mim tentando me agredir, e o meu amigo imediatamente ligou para a policia e denunciou o racismo.
Um dos amigos do Felipe, João também do mesmo curso, chamou Ricardo de fofoqueiro, e o agrediu com um soco no rosto, iniciando uma briga que foi apartada por todos.
Enquanto aguardávamos a viatura policial, que demorou cerca de 30 minutos, fomos abordados por um outro amigo do Felipe, do qual não me lembro o nome, mas sei que pertence ao CAENG (Centro Acadêmico de Engenharia) e do próprio DCE da UERJ, tentou contornar a situação me pedindo que para ir embora e esquecer o ocorrido. O rapaz ainda disse que não se lembrava de nada que tinha ocorrido, mesmo tendo ajudado a separar e a acalmar a situação. Como a patrulha estava demorando fomos até a cabine policial que próximo a estação Maracanã do metrô para tentar fazer algum contato e relatar a denuncia. Com a chegada da viatura policial eu, um colega que havia feito a denuncia através do 190 e o Ricardo que foi agredido, fomos encaminhados para a 18° D.P. que esta localizada na Praça da Bandeira. Chegamos na dita delegacia ás 6:00 hrs, fomos informados pela detetive Rosângela que precisaríamos de mais dados como nome, RG, endereço dos denunciados para registrar a ocorrência, que seria praticamente impossível informar.
É da ciência de muitas pessoas que fatos como esse são comuns nas universidades e na sociedade brasileira. Porém, quando classifico como comum, não significa que esse ou outros atos preconceituosos de maneira geral, podem ser naturalizados e tratados como normais. Sei que sou uma voz e que preciso de muito mais que isso para provocar mudanças necessárias na sociedade, principalmente na questão racial. Que devido ao imaginário brasileiro da democracia entre as raças que muitos acreditam existir, impede uma discussão de como tratar esses fatos quando realmente acontece.
Minha luta não é somente contra um racista específico e sim contra o próprio racismo que precisa ser combatido com conscientização e educação para que Crimes, como esse de que fui vitima e muitas outras pessoas não ocorram mais.
Não espero estar só nesta luta que não somente fica no campo racial, mas também indígenas, nordestinos, homossexuais, mulheres e de qualquer um que sofra preconceito neste país.
Para que essa luta seja objetiva, proponho junto as organizações de luta desta universidade e nas demais que façam seminários, discussões, campanhas e etc. que possamos discutir um meio para combater esse e outros tipos de descriminações nesses e em qualquer outros espaços.
Dandara Jacqueline Matulino da Silva
Graduanda da Universidade Federal Fluminense do curso de Pedagogia e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro do curso de Serviço Social
Exu não pode?
Recentemente, um jornal carioca destacou o caso da professora proibida de usar o livro "Lendas de Exu" em uma escola municipal. A professora é umbandista e a diretora da escola é evangélica. É cada vez mais comum que professores e alunos de candomblé ou umbanda sejam discriminados nas escolas. A pergunta é: por que Jesus pode estar em um livro para o ensino religioso católico, destinado à rede pública, e Exu não pode? Exu não entra na escola porque este país é racista, e o racismo está presente na escola. Acredito também que atravessamos uma fase de avanço conservador na educação pública. A manutenção da oferta do ensino religioso na Constituição de 88, a aprovação deste como confessional no Rio, os livros didáticos católicos, a Concordata Brasil-Vaticano, são vitórias silenciosas que ampliam e legitimam as circunstâncias necessárias para discriminações como essa.
A mãe-de-santo Beata de Yemanjá diz: "Pensam que o Brasil é uma coisa só e nos discriminam. Isso é racismo." Para o pesquisador Antônio Sérgio Guimarães, o racismo brasileiro é heterofóbico, a negação absoluta das diferenças implicando um ideal, explícito ou não, de homogeneidade (ou uma coisa só, como diz Beata).
Quando uma escola proíbe um livro de lendas africanas ela discrimina culturas afrodescendentes. Exu é negro. Um poderoso e imenso orixá negro. É o orixá mais próximo dos seres humanos porque representa a vontade, o desejo, a sexualidade, a dúvida. Por que esses sentimentos não são bem-vindos na escola? Porque a Igreja católica tratou de associá-lo ao seu diabo e muitas escolas incorporam essa lógica conservadora, moralista e racista. O Exu proibido afirma que este país tem negros com diferentes culturas que, se entendidas como modos de vida, podem incluir diferentes modos de ver, crer, não crer, sentir, entender e explicar a vida. Positivo foi que muitos professores e professoras criticaram o ocorrido, o que mostra que também a escola não é "uma coisa só". É nas suas tensões cotidianas que devemos lutar contra o racismo.
As culturas com suas religiões fazem parte do ensino de História da África. Como é que vai ser? Pais e professores arrancarão as páginas desses livros? Ou eles já serão confeccionados mutilados pelo racismo? Respondo com a saudação ao orixá excluído da escola: Laro oyê Exu! Para que ele traga mais confusão e com ela, o movimento, a comunicação, a transformação onde reina.
STELA GUEDES CAPUTO é professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Livro sobre Exu causa guerra santa em escola municipal - Fonte: O DIA Online
Rio - As aulas de Literatura Brasileira sobre o livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, se transformaram em batalha religiosa, travada dentro de uma escola pública. A professora Maria Cristina Marques, 48 anos, conta que foi proibida de dar aulas após usar a obra, recomendada pelo Ministério da Educação (MEC). Ela entrou com notícia-crime no Ministério Público, por se sentir vítima de intolerância religiosa. Maria é umbandista e a diretora da escola, evangélica.
A polêmica arde na Escola Municipal Pedro Adami, em Macaé, a 192 km do Rio, onde Maria Cristina dá aulas de Literatura Brasileira e Redação. A Secretaria de Educação de lá abriu sindicância e, como não houve acordo entre as partes, encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Macaé, que tem até sexta-feira para emitir parecer. Em nota, a secretaria informou que “a professora envolvida está em seu ambiente de trabalho, lecionando junto aos alunos de sua instituição”.
A professora confirmou ontem que voltou a lecionar. “Voltei, mas fui proibida até por mães de alunos, que são evangélicas, de dar aula sobre a África. Algumas disseram que estava usando a religião para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças. Me acusaram de fazer apologia do diabo!”, contou Maria Cristina.
Sacerdotisa de Umbanda, a professora se disse vítima de perseguição: “Há sete anos trabalho na escola e nunca passei por tanta humilhação. Até um provérbio bíblico foi colocado na sala de professores, me acusando de mentirosa”.
Negro, pós-graduado em ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, o diretor-adjunto Sebastião Carlos Menezes aguardará a conclusão da procuradoria para opinar. “Só posso lhe adiantar que a verdade vai prevalecer”, comentou. Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Sebastião contou que a diretora Mery Lice da Silva Oliveira é evangélica da Igreja Batista.
ATÉ CINCO ANOS DE PRISÃO
“Se houver preconceito de religião, acredito que deva ser aplicado todo o rigor da lei”, afirmou o coordenador de Direitos Humanos do Ministério Público (MP), Marcos Kac. O crime de intolerância religiosa prevê reclusão de até 5 anos. Em caso de injúria, a pena varia de 3 meses a 2 anos de prisão. O MP poderá entrar com ação pública penal se comprovar a intolerância religiosa. “Caso contrário envia à delegacia para inquérito”, explicou Kac.
Alunos do 7º ano leram a obra: referências ao folclore
Em 180 páginas, o livro ‘Lendas de Exu’, da Editora Pallas, traz informações sobre uma das principais divindades da cultura afro-brasileira. O autor da obra, Adilson Martins, remete ao folclórico Saci Pererê para explicar as traquinagens e armações de Exu.
Na introdução, Martins diz que ele é “um herói como tantos outros que você conhece”. Em Macaé, 35 alunos do 7º ano do Ensino Fundamental leram o livro.
Nas religiões afro-brasileiras, Exu é o mensageiro entre o céu e a terra, com liberdade para circular nas duas esferas. Por isso, algumas pessoas acabam o relacionando a Lúcifer.
O presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Ivanir dos Santos, garantiu que outros autores de livros, como Jorge Amado e Machado de Assis, sofrem discriminação nas escolas: “As ideias neopentecostais vêm crescendo muito, desrespeitando a lei”.
Ivanir explicou que o avanço da discriminação religiosa provocou o agendamento de um encontro, dia 12 de novembro, com a CNBB: “Objetivo é formar uma mesa histórica sobre os cultos afro e estabelecer uma agenda comum”.
VIVA VOZ
Até mães de alunos me proibiram de falar sobre a África
“Acusam-me de dar aula de religião. Não é verdade. No livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, há histórias interessantes, são ótimas para trabalhar com os alunos. Li os contos, como se fosse uma contadora de histórias, dramatizando cada uma delas. Praticamos Gramática, e os alunos ilustraram as histórias de acordo com a imaginação deles. Não dá para entender por que fui tão humilhada. Até mães de alunos, evangélicas, me proibiram de falar sobre a África”.
MARIA CRISTINA MARQUES, professora, 48 anos
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
"Mais importante que o enunciado é a boca do enunciador"
(Fechando a tampa das discussões do mês)
Quando te disserem que você quer dividir o Brasil em “pretos” e “brancos”, mostre que essa divisão sempre existiu. Se insistirem na acusação, mostre que, neste país, 121 anos após a Abolição, em todas as instâncias, o Poder é sempre branco. E que até mesmo como técnicos de futebol ou carnavalescos de escolas de samba, os negros só aparecem como exceção.
Quando, ainda batendo nessa tecla, te disserem que o Brasil é um país mestiço, concorde. Mas ressalve que essa mestiçagem só ocorre, com naturalidade, na base da pirâmide social, e nunca nas altas esferas do Poder. E que o argumento da “mestiçagem brasileira” tem legitimado a expropriação de muitas das criações do povo negro, do samba ao candomblé.
Quando te jogarem na cara a afirmação de que a África também teve escravidão, ensine a eles a diferença entre “servidão” e “cativeiro”. Mostre que a escravidão tradicional africana tinha as mesmas características da instituição em outras partes do mundo, principalmente numa época em que essa era a forma usual de exploração da força de trabalho. Lembre que, no escravismo tradicional africano, que separava os mais poderosos dos que nasciam sem poder, o bom escravo podia casar na família do seu senhor, e até tornar-se herdeiro. E assim, se, por exemplo, no século XVII, Zumbi dos Palmares teve escravos, como parece certo, foi exatamente dentro desse contexto histórico e social.
Diga, mais, a eles que, na África, foram primeiro levantinos e, depois, europeus que transformaram a escravidão em um negócio de altas proporções. Chegando, os europeus, ao ponto de fomentarem guerras para, com isso, fazerem mais cativos e lucrarem com a venda de armas e seres humanos.
Diga, ainda, na cara deles que, embora africanos também tenham vendido africanos como escravos, a África não ganhou nada com o escravismo, muito pelo contrário. Mas a Europa, esta sim, deu o seu grande salto, assumindo o protagonismo mundial, graças ao capital que acumulou coma escravidão africana. Da mesma que forma que a Ásia Menor, com o tráfico pelo Oceano Índico, desde tempos remotos.
Quando te enervarem dizendo que “movimento negro” é imitação de americano, esclareça que já em 1833, no Rio, o negro Francisco de Paula Brito (cujo bicentenário estamos comemorando) liderava a publicação de um jornal chamado O Homem de Cor, veiculando, mesmo com as limitações de sua época, reivindicações do povo negro. Que daí, em diante, a mobilização dos negros em busca de seus direitos, nunca deixou de existir. E isto, na publicação de jornais e revistas, na criação de clubes e associações, nas irmandades católicas, nas casas de candomblé... Etc.etc.etc.
Aí, pergunte a eles se já ouviram falar no clube Floresta Aurora, fundado em 1872 em Porto Alegre e ativo até hoje; se têm idéia do que foi a Frente Negra Brasileira, a partir de 1931, e o Teatro Experimental do Negro, de 1944. Mostre a eles que movimento negro não é um modismo brasileiro. Que a insatisfação contra a exclusão é geral. Desde a fundação do “Partido Independiente de Color”, em Cuba, 1908, passando pelo movimento “Nuestra Tercera Raíz” dos afro-mexicanos, em
1991; pela eleição do afro-venezuelano Aristúbolo Isturiz como prefeito de Caracas, em 1993; pelo esforço de se incluírem conteúdos afro-originados no currículo escolar oficial colombiano no final dos 1990; e chegando à atual mobilização dos afrodescendentes nas províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios e Missiones, para só ficar nesses exemplos.
Quando, de dedo em riste, te jogarem na cara que os negros do Brasil não são africanos e, sim, brasileiros; e que muitos brasileiros pretos (como a atleta Fulana de Tal, a atriz Beltrana, e o sambista Sicraninho da Escola Tal) têm em seu DNA mais genes europeus do que
africanos, concorde. Mas diga a eles que a Biologia não é uma ciência humana; e, assim, ela não explica o porquê de os afrobrasileiros notórios serem quase que invariavelmente, e apenas, profissionais da área esportiva e do entretenimento. E depois lembre que a Constituição Brasileira protege os bens imateriais portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira e suas respectivas formas de expressão. E que a Consciência Negra é um desses bens intangíveis.
Consciência Negra – repita bem alto pra eles, parafraseando Leopold Senghor – não é racismo ou complexo de inferioridade e, sim, um anseio legitimo de expansão e crescimento. Não separatismo, segregacionismo, ressentimento, ódio ou desprezo pelos outros grupos que constituem a Nação brasileira.
Consciência Negra somos nós, em nossa real dimensão de seres humanos, sabendo claramente o que somos, de onde viemos e para onde vamos, interagindo, de igual pra igual, com todos os outros seres humanos, em busca de um futuro de força, paz, estabilidade e desenvolvimento.
*Nei Lopes é escritor, compositor, pesquisador das culturas da Diáspora Africana e advogado.