quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

VI COPENE – Inscrições abertas!


Estão abertas as inscrições para o VI CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISADORES (AS) NEGROS (AS) que acontecerá em julho de 2010, no Rio de Janeiro. A sexta edição do evento terá como tema “AFRO-DIÁSPORA: SABERES PÓS-COLONIAIS, PODERES E MOVIMENTOS SOCIAIS”


As discussões deste Copene serão em torno dos processos de produção/difusão de conhecimentos intrinsecamente ligados às lutas históricas empreendidas pelas populações negras nas Diásporas Africanas, nos espaços de religiosidades, nos quilombos, nos movimentos negros organizados, na imprensa, nas artes e na literatura, nas escolas e universidades, nas organizações não-governamentais, nas empresas e nas diversas esferas estatais, que resistem, reivindicam e propõem alternativas políticas e sociais que atendam às necessidades das populações negras, visando a constituição material dos direitos. A organização do evento estima reunir aproximadamente 2000 participantes e, com isso, ampliar o debate e a reflexão em relação aos temas apresentados ao longo do congresso.

O prazo para o envio de resumos e propostas é 02 de janeiro a 10 de fevereiro de 2010. A previsão para a resposta da ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores Negros) aos autores com o parecer da análise será dia 28 de fevereiro. Outra data importante é a de pagamento das taxas de inscrição. O prazo final para ter o trabalho divulgado na programação é 31 de março, já para inscrição de cursos e oficinas será 01 de abril.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A História de uma conquista: a condenação da Sony Music por difundir conteúdos racistas





Quase cinco anos após decisão judicial ainda há obstáculos para que a indenização chegue a seu destino

Mais de uma década se passou do início de uma disputa travada nos tribunais, mas repercutida intensamente na mídia e no interior da sociedade brasileira. O processo contra a gravadora Sony, que terminou com a sua condenação, trouxe a baila intensos debates sobre o racismo, o sexismo e sobre a reprodução destes discursos no comércio de produtos culturais. Para muito além da compensação indenizatória, a decisão histórica da justiça brasileira teve e tem, ainda hoje, papel fundamental ao alavancar a visibilidade da luta pelo reconhecimento dos direitos da população negra - sobretudo, das mulheres negras - e por mais respeito no trato com a questão racial. O caso também suscitou impactos diretos no âmbito da superação do racismo e de seu lastro de violência simbólica.

“Este tipo de ação é importante. Os movimentos negros têm de estar preparados para atuar apresentando denúncias ao Ministério Público que é um braço do Estado atuante em qualquer lugar”. Destaca Luciene Marcelino, integrante do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA), uma das instituições que acompanhou e apoiou a ação jurídico-política.

Porém, a conquista não veio de graça. Somente após 8 anos da disputa – iniciada por Criola e Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) -, as organizações e entidades negras que, ao longo deste tempo, vieram cerrando fileiras no apoio ao processo, conseguiram vencer a batalha judicial que abriu precedentes históricos no campo da luta anti-racista no Brasil. A condenação da Sony Music, nesse caso, foi atribuída à veiculação da música “Veja o Cabelo Dela” do cantor Francisco Everaldo Oliveira Silva, o Tiririca. A canção recheada de insultos e idéias degradantes referindo-se a mulher negra foi finalmente, no ano de 2005, julgada como de cunho racista pela 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça. Paradoxalmente, segundo o próprio cantor, a música seria uma “homenagem” a sua então esposa. Detalhe que ilustra com perfeição o grau de imersão da sociedade em dinâmicas que multiplicam e naturalizam discriminações.

O processo começou em 1997, após denúncia apresentada ao Ministério Público, inicialmente, contra o cantor Tiririca; o diretor-presidente da gravadora, Roberto Augusto e o diretor de marketing Luiz André Calainho. No ano seguinte, o juiz Carlos Flores da Cunha, da 23º Vara Criminal do Rio de Janeiro, absolveu Tiririca da acusação de racismo, alegando que o cantor não teve intenção de ofender as mulheres negras. Diante da decisão, mais uma vez, a militância negra se mobilizou e, novamente recorrendo aos tribunais por meio de uma articulação formada por Criola, Caces, Cedenpa, Maria Mulher, Nzinga, Geledés, Imena, Fala Preta!, Casa de Cultura da Mulher Negra, Acmun , Ceap, Ipcn, Grucon e Ipdh, conseguiu, em 2005, que a Sony Music fosse condenada por dois votos a um, a pagar uma indenização cujo valor correspondia ao total arrecadado com a vendagem do disco de Tiririca (cerca de R$ 300.000,00). O dinheiro seria revertido para um fundo de apoio a projetos de enfrentamento do racismo, mas, até hoje não seguiu o destino designado pela determinação judicial.

“É um caso importante. A música além de muito mau gosto apresentava componentes raciais fortes. Foi deferida uma indenização a partir da junção vitoriosa do movimento negro e, sobretudo, da articulação de mulheres negras brasileiras. Me sinto orgulhoso de ter atuado neste caso ao lado da ONG Criola e demais entidades”. Diz o então advogado do caso e hoje Ouvidor da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR), Humberto Adami.

Desde a ocasião de sua condenação até hoje, a Sony contesta a quantia estipulada para a indenização. A gravadora alega que o valor - atualmente corrigido - não coincide com o arrecadado pela venda do disco. O que vem atrasando, consideravelmente, a transferência de um montante que já deveria, inclusive, ter sido direcionado ao apoio de ações e projetos de enfrentamento do racismo.

TIÇÃO, TIZIL É O POVO DO BRASIL! (CULTNE - A Marcha Negra- 1988)

Ontem postei um conteúdo, no mínimo inquietante sobre a manifestação de estudantes negros da UERJ em repúdio aos recentes atos de violência racial praticados por outros alunos na universidade. O acontecimento me fez parar e refletir sobre como a mentalidade do povo brasileiro avançou (ou não) em relação às questões raciais. Após algumas horas de reflexão e pesquisa, me deparei com um vídeo que tem quase a minha idade e, por incrível que pareça, contém a mesma essência da reivindicação feita pelos estudantes da UERJ ontem: RESPEITO!

Este vídeo que retrata parte de nossa história, mostra como foi importante a luta de irmãs e irmãos de outrora, pois, para que os estudantes de hoje pudessem estar ali, dentro de uma universidade renomada, gritando alto por seus direitos e por respeito, foram necessárias muitas outras manifestações (e o vídeo registra uma delas).

Acaba sendo interessante notar como essas lutas pregressas semearam mudanças na história e na própria maneira lê-la hoje. “Morro derrotado, mas negros serão livres um dia...”, diz Zumbi dos Palmares na frase estampada quase no fim do vídeo. Olhando de nosso presente peço licença e me atrevo a discordar: Zumbi venceu!

Luanda Melo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

UM BASTA AO RACISMO!



Hoje, às 17horas, horário de Brasília, o coletivo de estudantes negros da UERJ (DENEGRIR) irá realizar um ato intitulado “EM LEGÍTIMA DEFESA” para repudiar as recentes agressões raciais ocorridas na universidade. A manifestação será no Hall do Queijo.

Em menos de uma semana duas agressões racistas ocorreram na UERJ.
No sábado dia 05 de dezembro de 2009 a estudante de serviço social, Dandara, foi agredida por um aluno branco do IME – UERJ, que a xingou de Chimpanzé. Na última sexta feira, 11 de dezembro, três alunos brancos do curso de FILOSOFIA - UERJ depredaram a sala Abdias Nascimento, sede do coletivo Denegrir, a chutes e gritos que ofenderam a todos os negros e negras presentes com as seguintes palavras: “ COTISTAS DE MERDA!, PODER ARIANO, PODER BRANCO, SOMOS BRANCOS POR ISSO SOMOS SUPERIORES E DOMINAMOS TUDO, além da pichação racista do banheiro feminino que diz: “MULHERES NEGRAS SÓ PODEM TER 3 FILHOS POR QUE O 4º É FORMAÇÃO DE QUADRILHA”.

Esse tipo de agressão não pode passar impunemente!!!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Seminário de Estética e Negritude no Brasil Contemporâneo


De 14 a 17 de dezembro vai rolar um Seminário de Estética e Negritude no Brasil Contemporâneo, na ABI (Associação Brasileira de Imprensa). O propósito é reunir intelectuais e artistas afro-brasileiros afim de palestrar e debater sobre a presença estética do negro na cultura brasileira. Os temas apresentados serão publicados numa revista ao final do evento. Vale a pena conferir!




PROGRAMAÇÃO

Dia 14/12/09

08h00 – Abertura de Inscrições
Local: Sagão do 9º andar do auditório Oscar Guanabarino
09h00 09h30 – 12h30 - Mesa I: Negritude (s) em trânsito e reapropriação do belo.
Coordenação: Martvs Chagas – SEPPIR
Palestrantes: Julio Tavares - Anropólogo - UFF
Helena Teodoro – Escritora
Jacques d`Adesky – Pesuisador UCAM

13h30 – 16h30 - Mesa II - Temática: Letras na Diáspora Poética e Política
Coordenação: Azoilda Loretto – Pedagoga – Psicóloga
Palestrantes: Joel Rufino dos Santos – Escritor
Elisa Lucinda – Atriz – Poeta
Éle Semog – Escritor

17h00 – Sessão de Abertura do ENCONTRO DE ARTE NEGRA – SEMIN?RIO ESTÉTICA E NEGRITUDE NO BRASIL CONTEMPOR?NEO
Autoridades e convidados.
Local: Auditório Oscar Guanabarino da ABI

Saudações e apresentação do evento pelo presidente do CIDAN
Antonio Pompêo

Convidados:

Edson Santos - Ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Zulu Araújo – Presidente da Fundação Cultural Palmares
Sergio Mamberti – Presidente da Funarte
Maurício Azedo – Presidente da ABI
Milton Goncalves – Ator
Jorge Coutinho – Ator – Presidente do SATEDRJ
Zózimo Bulbul – Cineasta – Centro Afro Carioca de Cinema
Carlos Alberto Medeiros – Coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – Prefeitura do Rio de Janeiro
Zezé Motta – Presidente de Honra do CIDAN

18h00 às 19h00 – Recepção no saguão do 9º andar.


Dia 15/12/2009

Local: Auditório Belisário de Souza, no 7º andar da ABI
09h30 – 12h30 - Mesa I: Negritude (s) em trânsito e reapropriação do belo.

Coordenação:

Martivs Chagas – SEPPIR
Palestrantes: Muniz Sodré – Presidente da Fundação Biblioteca Nacional
Helena Teodoro – Escritora
Jacques d`Adesky – Conselheiro Acadêmico da CLACSO
13h30 – 16h30 - Mesa II - Letras na Diáspora Temática: Poética e Política
Coordenação: Ricardo Vieiralves – Reitor da Uerj
Joel Rufino dos Santos – Escritor
Elisa Lucinda – Atriz – Poeta
Éle Semóg - Escritor


Dia 16/12/2008

Local: Auditório Belisário de Souza, no 7º andar da ABI
09h30-12h30 - Mesa III - Reapropriação e legitimidade das expressões afro-brasileiras
Coordenação: Antonio Molina – Vice-Presidente do CIDAN
Palestrantes: Julio Tavares - Antropólogo UFF
Zulu Araujo – Presidente da FCP
Ronaldo Rêgo - Artista Plástico

13h30 – 16h30 - Mesa IV – Formas, pincéis e traços da mulher e do homem de cor, Imagens, folclorização e consumo: Quem faz e quem vende o “Produto Afro?”
Coordenação: Renata Melo – SEPPIR
Palestrantes: Nelson Inocêncio – Professor da Unb
Pestana - jornalista – Diretor da revista RAÇA
Januário Garcia - Fotógrafo


Dia 17/11/09

Local: Auditório Belisário de Souza, no 7º andar da ABI
09h30 -12h30 - Mesa V - Nós e os outros na m música negra contemporânea.
Coordenação: Sergio Cabral – Jornalista e pesquisador
Palestrantes: Haroldo Costa – Pesquisador
Carlos Negreiros – Músico e Pesquisador
Delcio Teobaldo – Escritor – Jornalista - Musicólogo
Augusto Bapt – Músico

13h30 – 16h30 - Mesa VI –Temática: Agência Negra e Grande Mídia: inserção e ativismo político
Coordenação: Carlos Alberto Medeiros – Coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – Prefeitura do Rio de Janeiro
Palestrantes: Joelzito Araujo – Cineasta
Sandra Almada – Jornalista
Jeferson De – Cineasta
Luiz Antônio Pilar – Diretor de Novelas na Rede Globo

Manifesto Porta na Cara - Flagrante na agência bancária

MANIFESTO PORTA NA CARA, vídeo feito pelo Núcleo de Audiovisual do Circo Voador em novembro deste ano, é um flagrante de que o racismo ainda orienta e estrutura uma série de comportamentos e práticas sociais.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Carta aberta da organização de mulheres negras CRIOLA para aluna da UERJ vítima de racismo

No último dia 28, Dandara Jacqueline Matulino da Silva, aluna do curso de Serviço Social da UERJ foi vítima de crime de racismo praticado por colegas seus, em frente ao campus da universidade. Ao tentar denunciar, a aluna se deparou com solicitações absurdas por parte da polícia: ela deveria informar os nomes, números dos documentos de identidade e endereços dos denunciados .

“Uma voz”

Cara Dandara,
Mesmo estando ainda sob o impacto de seu relato, gostaríamos de, em primeiro lugar, registrar nosso apreço e admiração pela iniciativa comprometida e corajosa de tornar públicas as passagens do episódio de racismo e violência de gênero, lamentavelmente, vivenciadas por você há poucos dias. O racismo que se manifestou nas palavras de seu agressor, como você bem diz, é o mesmo que perpassava o ato de violência física e psicológica praticado por este – porque fazia com que ele imaginasse ter o direito de agir de tal forma. O racismo continuou impresso no descaso com que a polícia tratou sua denúncia e, até mesmo, no pedido de “deixa disso” feito pelo colega que acompanhou parte do acontecido.
Como você já sabe – e a conclusão depreende-se de sua atitude - o racismo, bem como as injustiças e dores que certamente o acompanham, só serão superados através de gestos de indignação e resistência como o seu: pegando emprestadas as suas palavras “uma voz” que não silenciou diante de formas tão ostensivas de violência. Por estes motivos, CRIOLA vem através das linhas que se seguem cumprir o objetivo duplo de oferecer apoio e congratulação por seu gesto, que ilustra e materializa o repúdio, o qual compartilhamos, pelo racismo e pelo sexismo, entranhados não só nas ações do criminoso, mas também na postura dos agentes do Estado que exigiram de você, a vítima - é bom que se destaque - dados dos quais não poderia dispor no momento, com a evidente intenção de inviabilizar a oficialização do registro de ocorrência.
Por mais redundante e absurdo que pareça, temos de ressaltar que É DEVER DA POLÍCIA INVESTIGAR DENÚNCIAS não da(o) denunciante. Você pode ainda recorrer ao Centro Integrado de Atendimento à Mulher (CIAM) , que presta serviços de assistência jurídica, psicossocial e de acompanhamento de casos envolvendo mulheres em situação de violência e discriminação; e ao Ministério Público.
Tão ou mais grave do que a atitude de alguns de seus colegas de universidade, é a postura de agentes da lei tentando obstruí-la em nome da perpetuação de uma espécie de ciclo no qual a sociedade, o Estado e suas autoridades vêm, constantemente, reiterar cumplicidades com as múltiplas formas opressão vividas pelas mulheres negras. Isso tem de acabar e entendemos que para tal é necessário que nos movimentemos e estejamos constantemente prontas a defender nossos direitos. Por isso, exigimos da polícia que apure os dois crimes, tanto o de racismo ocorrido em frente ao campus da UERJ, quanto o de seus próprios agentes (cuja conduta foi deplorável diante da gravidade dos fatos). Da universidade cobramos posicionamento, por considerar que o racismo, em todas as suas dimensões, demanda respostas. E que a reticência, neste caso, acabaria sinalizando certo nível de conivência da instituição com práticas discriminatórias - e é importante mencionar que a UERJ, ao contrário, vem dando várias demonstrações de seu apoio à luta antiracista (e esperamos que, desta vez, continue). Queremos que a universidade – na figura de seu reitor - se pronuncie publicamente repudiando o racismo e qualquer tipo de discriminação, além disso, que se comprometa com o desenvolvimento de ações informativas e educativas antiracismo.
CRIOLA, ao longo de sua trajetória política, além de apoiar e instrumentalizar meninas e mulheres negras na luta antiracista e antisexista, sempre as enxergou enquanto verdadeiras agentes de transformação da sociedade e protagonistas dos processos de ruptura com a reprodução de comportamentos, práticas e estruturas permeados pelas discriminações. E é assim que encaramos a sua mensagem. Que embora narre um episódio lamentável, dá conta, ao mesmo tempo, de politizá-lo. É, inegavelmente, um relato que nos inspira a continuar na luta.
Conte conosco,
CRIOLA .


* Carta aberta de Dandara Jacqueline Matulino da Silva aos alunos da UERJ

Rio de Janeiro, 30 de Novembro de 2009.
Carta aberta aos alunos da UERJ

No sábado por volta das 5:30 min. da amanhã, ao sair de uma festa em casa de uma amiga, em Vila Isabel, passei em frente a UERJ com o intuito de pegar o ônibus de volta para casa, localizada no bairro da Penha. Estava acompanhada de mais três amigos, quando paramos para conversarmos com mais três rapazes, que por motivos desconhecidos estavam em frente ao portão principal da UERJ à Rua São Francisco Xavier.
Distancie-me do grupo para ver se o ônibus estava vindo e ao me aproximar um dos amigos, relatou-me que um dos meninos do outro grupo, cujo nome é Felipe e cursa engenharia, me chamou de chipanzé em uma atitude altamente desrespeitosa e racista.
Indiguinada fui tirar satisfação com o Felipe que, a principio negou o fato e partiu para cima de mim tentando me agredir, e o meu amigo imediatamente ligou para a policia e denunciou o racismo.
Um dos amigos do Felipe, João também do mesmo curso, chamou Ricardo de fofoqueiro, e o agrediu com um soco no rosto, iniciando uma briga que foi apartada por todos.
Enquanto aguardávamos a viatura policial, que demorou cerca de 30 minutos, fomos abordados por um outro amigo do Felipe, do qual não me lembro o nome, mas sei que pertence ao CAENG (Centro Acadêmico de Engenharia) e do próprio DCE da UERJ, tentou contornar a situação me pedindo que para ir embora e esquecer o ocorrido. O rapaz ainda disse que não se lembrava de nada que tinha ocorrido, mesmo tendo ajudado a separar e a acalmar a situação. Como a patrulha estava demorando fomos até a cabine policial que próximo a estação Maracanã do metrô para tentar fazer algum contato e relatar a denuncia. Com a chegada da viatura policial eu, um colega que havia feito a denuncia através do 190 e o Ricardo que foi agredido, fomos encaminhados para a 18° D.P. que esta localizada na Praça da Bandeira. Chegamos na dita delegacia ás 6:00 hrs, fomos informados pela detetive Rosângela que precisaríamos de mais dados como nome, RG, endereço dos denunciados para registrar a ocorrência, que seria praticamente impossível informar.
É da ciência de muitas pessoas que fatos como esse são comuns nas universidades e na sociedade brasileira. Porém, quando classifico como comum, não significa que esse ou outros atos preconceituosos de maneira geral, podem ser naturalizados e tratados como normais. Sei que sou uma voz e que preciso de muito mais que isso para provocar mudanças necessárias na sociedade, principalmente na questão racial. Que devido ao imaginário brasileiro da democracia entre as raças que muitos acreditam existir, impede uma discussão de como tratar esses fatos quando realmente acontece.
Minha luta não é somente contra um racista específico e sim contra o próprio racismo que precisa ser combatido com conscientização e educação para que Crimes, como esse de que fui vitima e muitas outras pessoas não ocorram mais.
Não espero estar só nesta luta que não somente fica no campo racial, mas também indígenas, nordestinos, homossexuais, mulheres e de qualquer um que sofra preconceito neste país.
Para que essa luta seja objetiva, proponho junto as organizações de luta desta universidade e nas demais que façam seminários, discussões, campanhas e etc. que possamos discutir um meio para combater esse e outros tipos de descriminações nesses e em qualquer outros espaços.

Dandara Jacqueline Matulino da Silva
Graduanda da Universidade Federal Fluminense do curso de Pedagogia e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro do curso de Serviço Social

Exu não pode?

(OPINIÃO) - Fonte: O Globo - 23/11/2009 às 16h06m


Recentemente, um jornal carioca destacou o caso da professora proibida de usar o livro "Lendas de Exu" em uma escola municipal. A professora é umbandista e a diretora da escola é evangélica. É cada vez mais comum que professores e alunos de candomblé ou umbanda sejam discriminados nas escolas. A pergunta é: por que Jesus pode estar em um livro para o ensino religioso católico, destinado à rede pública, e Exu não pode? Exu não entra na escola porque este país é racista, e o racismo está presente na escola. Acredito também que atravessamos uma fase de avanço conservador na educação pública. A manutenção da oferta do ensino religioso na Constituição de 88, a aprovação deste como confessional no Rio, os livros didáticos católicos, a Concordata Brasil-Vaticano, são vitórias silenciosas que ampliam e legitimam as circunstâncias necessárias para discriminações como essa.

A mãe-de-santo Beata de Yemanjá diz: "Pensam que o Brasil é uma coisa só e nos discriminam. Isso é racismo." Para o pesquisador Antônio Sérgio Guimarães, o racismo brasileiro é heterofóbico, a negação absoluta das diferenças implicando um ideal, explícito ou não, de homogeneidade (ou uma coisa só, como diz Beata).

Quando uma escola proíbe um livro de lendas africanas ela discrimina culturas afrodescendentes. Exu é negro. Um poderoso e imenso orixá negro. É o orixá mais próximo dos seres humanos porque representa a vontade, o desejo, a sexualidade, a dúvida. Por que esses sentimentos não são bem-vindos na escola? Porque a Igreja católica tratou de associá-lo ao seu diabo e muitas escolas incorporam essa lógica conservadora, moralista e racista. O Exu proibido afirma que este país tem negros com diferentes culturas que, se entendidas como modos de vida, podem incluir diferentes modos de ver, crer, não crer, sentir, entender e explicar a vida. Positivo foi que muitos professores e professoras criticaram o ocorrido, o que mostra que também a escola não é "uma coisa só". É nas suas tensões cotidianas que devemos lutar contra o racismo.

As culturas com suas religiões fazem parte do ensino de História da África. Como é que vai ser? Pais e professores arrancarão as páginas desses livros? Ou eles já serão confeccionados mutilados pelo racismo? Respondo com a saudação ao orixá excluído da escola: Laro oyê Exu! Para que ele traga mais confusão e com ela, o movimento, a comunicação, a transformação onde reina.

STELA GUEDES CAPUTO é professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Livro sobre Exu causa guerra santa em escola municipal - Fonte: O DIA Online


Professora umbandista diz que foi proibida de dar aulas em unidade de Macaé, dirigida por diretora evangélica

Rio - As aulas de Literatura Brasileira sobre o livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, se transformaram em batalha religiosa, travada dentro de uma escola pública. A professora Maria Cristina Marques, 48 anos, conta que foi proibida de dar aulas após usar a obra, recomendada pelo Ministério da Educação (MEC). Ela entrou com notícia-crime no Ministério Público, por se sentir vítima de intolerância religiosa. Maria é umbandista e a diretora da escola, evangélica.
A polêmica arde na Escola Municipal Pedro Adami, em Macaé, a 192 km do Rio, onde Maria Cristina dá aulas de Literatura Brasileira e Redação. A Secretaria de Educação de lá abriu sindicância e, como não houve acordo entre as partes, encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Macaé, que tem até sexta-feira para emitir parecer. Em nota, a secretaria informou que “a professora envolvida está em seu ambiente de trabalho, lecionando junto aos alunos de sua instituição”.

A professora confirmou ontem que voltou a lecionar. “Voltei, mas fui proibida até por mães de alunos, que são evangélicas, de dar aula sobre a África. Algumas disseram que estava usando a religião para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças. Me acusaram de fazer apologia do diabo!”, contou Maria Cristina.

Sacerdotisa de Umbanda, a professora se disse vítima de perseguição: “Há sete anos trabalho na escola e nunca passei por tanta humilhação. Até um provérbio bíblico foi colocado na sala de professores, me acusando de mentirosa”.

Negro, pós-graduado em ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, o diretor-adjunto Sebastião Carlos Menezes aguardará a conclusão da procuradoria para opinar. “Só posso lhe adiantar que a verdade vai prevalecer”, comentou. Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Sebastião contou que a diretora Mery Lice da Silva Oliveira é evangélica da Igreja Batista.

ATÉ CINCO ANOS DE PRISÃO

“Se houver preconceito de religião, acredito que deva ser aplicado todo o rigor da lei”, afirmou o coordenador de Direitos Humanos do Ministério Público (MP), Marcos Kac. O crime de intolerância religiosa prevê reclusão de até 5 anos. Em caso de injúria, a pena varia de 3 meses a 2 anos de prisão. O MP poderá entrar com ação pública penal se comprovar a intolerância religiosa. “Caso contrário envia à delegacia para inquérito”, explicou Kac.

Alunos do 7º ano leram a obra: referências ao folclore

Em 180 páginas, o livro ‘Lendas de Exu’, da Editora Pallas, traz informações sobre uma das principais divindades da cultura afro-brasileira. O autor da obra, Adilson Martins, remete ao folclórico Saci Pererê para explicar as traquinagens e armações de Exu.

Na introdução, Martins diz que ele é “um herói como tantos outros que você conhece”. Em Macaé, 35 alunos do 7º ano do Ensino Fundamental leram o livro.

Nas religiões afro-brasileiras, Exu é o mensageiro entre o céu e a terra, com liberdade para circular nas duas esferas. Por isso, algumas pessoas acabam o relacionando a Lúcifer.

O presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Ivanir dos Santos, garantiu que outros autores de livros, como Jorge Amado e Machado de Assis, sofrem discriminação nas escolas: “As ideias neopentecostais vêm crescendo muito, desrespeitando a lei”.

Ivanir explicou que o avanço da discriminação religiosa provocou o agendamento de um encontro, dia 12 de novembro, com a CNBB: “Objetivo é formar uma mesa histórica sobre os cultos afro e estabelecer uma agenda comum”.

VIVA VOZ
Até mães de alunos me proibiram de falar sobre a África

“Acusam-me de dar aula de religião. Não é verdade. No livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, há histórias interessantes, são ótimas para trabalhar com os alunos. Li os contos, como se fosse uma contadora de histórias, dramatizando cada uma delas. Praticamos Gramática, e os alunos ilustraram as histórias de acordo com a imaginação deles. Não dá para entender por que fui tão humilhada. Até mães de alunos, evangélicas, me proibiram de falar sobre a África”.

MARIA CRISTINA MARQUES, professora, 48 anos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

"Mais importante que o enunciado é a boca do enunciador"


CONSCIÊNCIA NEGRA, MODO DE USAR
(Fechando a tampa das discussões do mês)

Quando te disserem que você quer dividir o Brasil em “pretos” e “brancos”, mostre que essa divisão sempre existiu. Se insistirem na acusação, mostre que, neste país, 121 anos após a Abolição, em todas as instâncias, o Poder é sempre branco. E que até mesmo como técnicos de futebol ou carnavalescos de escolas de samba, os negros só aparecem como exceção.

Quando, ainda batendo nessa tecla, te disserem que o Brasil é um país mestiço, concorde. Mas ressalve que essa mestiçagem só ocorre, com naturalidade, na base da pirâmide social, e nunca nas altas esferas do Poder. E que o argumento da “mestiçagem brasileira” tem legitimado a expropriação de muitas das criações do povo negro, do samba ao candomblé.

Quando te jogarem na cara a afirmação de que a África também teve escravidão, ensine a eles a diferença entre “servidão” e “cativeiro”. Mostre que a escravidão tradicional africana tinha as mesmas características da instituição em outras partes do mundo, principalmente numa época em que essa era a forma usual de exploração da força de trabalho. Lembre que, no escravismo tradicional africano, que separava os mais poderosos dos que nasciam sem poder, o bom escravo podia casar na família do seu senhor, e até tornar-se herdeiro. E assim, se, por exemplo, no século XVII, Zumbi dos Palmares teve escravos, como parece certo, foi exatamente dentro desse contexto histórico e social.

Diga, mais, a eles que, na África, foram primeiro levantinos e, depois, europeus que transformaram a escravidão em um negócio de altas proporções. Chegando, os europeus, ao ponto de fomentarem guerras para, com isso, fazerem mais cativos e lucrarem com a venda de armas e seres humanos.

Diga, ainda, na cara deles que, embora africanos também tenham vendido africanos como escravos, a África não ganhou nada com o escravismo, muito pelo contrário. Mas a Europa, esta sim, deu o seu grande salto, assumindo o protagonismo mundial, graças ao capital que acumulou coma escravidão africana. Da mesma que forma que a Ásia Menor, com o tráfico pelo Oceano Índico, desde tempos remotos.

Quando te enervarem dizendo que “movimento negro” é imitação de americano, esclareça que já em 1833, no Rio, o negro Francisco de Paula Brito (cujo bicentenário estamos comemorando) liderava a publicação de um jornal chamado O Homem de Cor, veiculando, mesmo com as limitações de sua época, reivindicações do povo negro. Que daí, em diante, a mobilização dos negros em busca de seus direitos, nunca deixou de existir. E isto, na publicação de jornais e revistas, na criação de clubes e associações, nas irmandades católicas, nas casas de candomblé... Etc.etc.etc.

Aí, pergunte a eles se já ouviram falar no clube Floresta Aurora, fundado em 1872 em Porto Alegre e ativo até hoje; se têm idéia do que foi a Frente Negra Brasileira, a partir de 1931, e o Teatro Experimental do Negro, de 1944. Mostre a eles que movimento negro não é um modismo brasileiro. Que a insatisfação contra a exclusão é geral. Desde a fundação do “Partido Independiente de Color”, em Cuba, 1908, passando pelo movimento “Nuestra Tercera Raíz” dos afro-mexicanos, em
1991; pela eleição do afro-venezuelano Aristúbolo Isturiz como prefeito de Caracas, em 1993; pelo esforço de se incluírem conteúdos afro-originados no currículo escolar oficial colombiano no final dos 1990; e chegando à atual mobilização dos afrodescendentes nas províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios e Missiones, para só ficar nesses exemplos.

Quando, de dedo em riste, te jogarem na cara que os negros do Brasil não são africanos e, sim, brasileiros; e que muitos brasileiros pretos (como a atleta Fulana de Tal, a atriz Beltrana, e o sambista Sicraninho da Escola Tal) têm em seu DNA mais genes europeus do que
africanos, concorde. Mas diga a eles que a Biologia não é uma ciência humana; e, assim, ela não explica o porquê de os afrobrasileiros notórios serem quase que invariavelmente, e apenas, profissionais da área esportiva e do entretenimento. E depois lembre que a Constituição Brasileira protege os bens imateriais portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira e suas respectivas formas de expressão. E que a Consciência Negra é um desses bens intangíveis.

Consciência Negra – repita bem alto pra eles, parafraseando Leopold Senghor – não é racismo ou complexo de inferioridade e, sim, um anseio legitimo de expansão e crescimento. Não separatismo, segregacionismo, ressentimento, ódio ou desprezo pelos outros grupos que constituem a Nação brasileira.

Consciência Negra somos nós, em nossa real dimensão de seres humanos, sabendo claramente o que somos, de onde viemos e para onde vamos, interagindo, de igual pra igual, com todos os outros seres humanos, em busca de um futuro de força, paz, estabilidade e desenvolvimento.

*Nei Lopes é escritor, compositor, pesquisador das culturas da Diáspora Africana e advogado.